"Água cristalina,
Solitária nascente
Gotejando sementes,
Construir o presente
No ventre de uma mulher.
Fertilizar a terra,
Sagrada vertente,
Benção da Criação.
Filetes de pedra,
Mais parecem espinhos,
Cristalinas escarpas,
Fronteiras em desalinho.
Eu vi um menino
A escalar a montanha
E a escrever com as mãos
O seu próprio destino.
Braço de um rio
A sagrar o seu curso,
Navegar, navegar...
Descobrir o seu ninho,
Aportar, lançar amarras,
Alterar seu destino.
Fazer do amor que floresce
A razão dos seus sonhos.
Poderosa enchente
Que a tudo renova
Adernar, naufragar,
Se afogar no delírio.
Descobrir que a dor
Impulsiona o ser.
Desgovernado que seja,
Alterar o seu curso,
Ser um mar raivoso,
Ser a foz de um rio,
Ou uma velha embarcação
Resistindo ao açoite.
Prosseguir mar afora,
Peregrino e vadio,
Pela força dos ventos
Da saudade e do cansaço.
Eu vi um menino,
Sobrevivente dos tempos,
A escrever com as mãos
O seu próprio destino,
A procurar um norte,
A desafiar a morte,
Suas mãos calejadas
Por lutar contra a maré."
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